"É possível governar Moçambique de forma pacífica, sem armas"
O que o levou a afastar-se da Renamo em 2008?
Na época era o gestor mais habilitado, mais conhecido e uma referência na governação em Moçambi-que. E ainda hoje sou. O que se passou é que mesmo após a minha escolha e confirmação local e regional, digamos que problemas de ciúmes levaram a que, a nível da direção da Renamo, tenha sido negada a minha candidatura. Ora, como nós, na Beira, não queríamos que ela ficasse para o partido no poder, tivemos de concorrer, de forma inteligente, para que a cidade não caísse nas mãos erradas em 2009. Ganhámos por margem folgada.
E como passou da Beira para o plano nacional, sendo hoje o MDM a terceira força política?
Antes da assembleia constituinte do movimento, tivemos o cuidado de ir de província em província ouvir as pessoas e saber se nos apoiariam. A grande maioria aconselhou-nos a avançar, mas não o queríamos fazer só como um grupo da Beira, mas como movimento nacional, o que veio a suceder. Nasceu na Beira, mas só isso.
Um partido que não tem uma ala armada nem uma trajetória de luta armada...
É uma grande vantagem. É também verdade que, nas eleições de 2014, os moçambicanos foram votar ainda a pensar em armas, a pensar na guerra e que só quem tem armas é que pode estar no poder. Mas esta é uma mentalidade que começa a mudar, há pessoas que sabem que Moçambique precisa de um governo civil e que a existência de partidos armados não é bom para a paz no país, pois cada um vai querer impor sempre a sua perspetiva.
A presente crise vai levar a uma situação sem saída?
Penso que é o momento para demonstrar o contrário. E nós no MDM provámos isso. As quatro autarquias que ganhámos, foi sem armas. E estamos a governá-las de forma pacífica. Por isso, penso que é possível governar Moçambique de forma pacífica, sem armas, sem se ser um partido historicamente armado, ou com armas.